Numa cidade repleta de ondas alucinantes e vibe do Surf, naturalmente grandes shapers foram se desenvolvendo na cidade. São dezenas de Artesãos de Netuno fabricando os foguetes que geram tantas alegrias e emoção para a tribo do Surf. Esse é o espaço de divulgação dessas figuras ilustres do Surf ubatubense.
GM Surfboards. Essa é a marca do shaper Guilherme Magalhães, nascido na capital SP mas que com apenas 3 meses de vida se mudou para Ubatuba, quando seus pais foram transferidos para cá. Começou a surfar aos 11 anos de idade e logo o desejo de viver do Surf foi se fortalecendo, culminando com a criação da sua fábrica de pranchas.
RÁDIO UBATUBA SURF: Guilherme Magalhães, seja bem vindo! Como foram seus primeiros contatos com o Surf?
GUILHERME MAGALHÃES: Alô pessoal da Rádio Ubatuba Surf, big aloha a todos. Me mudei para Ubatuba muito pequeno, quando criança eu já era envolvido com natação e aos 11 anos ganhei uma prancha de um amigo da minha mãe. Foi nessa época que comecei a surfar, foi aí que comecei a pegar o amor pelo Surf e desde então não parei mais.
RÁDIO UBATUBA SURF: Quando surgiu o interesse em viver do Surf se tornando shaper profissional?
GM: Na verdade desde o início quando comecei a surfar, logo entrei numa escolinha e já fui tomando gosto pelo esporte. Fui crescendo, participei de alguns campeonatos e no dia a dia fazendo o freesurf as coisas foram acontecendo. Comecei a trabalhar muito novo, com 12 anos, ajudando minha mãe numa empresa que ela tinha. Conforme o tempo foi passando fui querendo ter algo próprio, tipo montar uma empresa dentro do que eu gostava de fazer. E foi assim que surgiu a ideia de montar a fábrica de pranchas. Tive a oportunidade do shaper Alexandre Moliterno me ajudar, me ensinar. Com isso já fazem mais de 20 anos que estou no mercado, sempre buscando aprender mais e mais, evoluir e fazer o melhor que a gente consegue.
RÁDIO UBATUBA SURF: Você é um shaper que tradicionalmente tem vários atletas em sua equipe. Quais são os atletas estão surfando com apoio da GM Surfboards?
GM: Nós temos uma equipe com 8 atletas: Kalany Joan, João Alves, Suzan Cristina, Tabajara Quintino, Alexander Salomão, Cauê Angélico que é la da Praia de Laranjeiras. Também a Mariana Cury e Gabriela Cury. Na parte mais avançada, entram o Kalany, João e o Alexander Salomão. Na parte de free surf entram o casal Tabajara e a Suzan. E na parte sub 14 buscando a evolução entram a Mariana e a Gabriela que estão evoluindo dia a dia.
RÁDIO UBATUBA SURF: Como funciona essa relação de troca de informações entre você e sua equipe para buscar aprimorar ainda mais suas pranchas?
GM: Então, na parte dos atletas a gente tem essa equipe justamente para isso né. Vou desenvolvendo as pranchas e colocando no pé dos atletas para que eles possam fazer esses testes. Geralmente vou moldando, dependendo de surfista para surfista, a gente vai analisando mais ou menos o tipo de Surf de cada um deles e vai desenvolvendo cada tipo de prancha adequada para cada atleta específico. De tempos em tempos é feita essa troca de pranchas, os mais técnicos vão testando primeiro, depois essas mesmas pranchas são passadas para pessoas do freesurf, que vão me passando o feedback dos equipamentos. Fazemos análise por vídeo dos surfistas também, visando comparar tanto performance e evolução dos atletas quanto o comportamento das pranchas em diferentes níveis de Surf. O objetivo é fabricar pranchas que possam ser usadas no dia a dia para que os clientes possam se desenvolver cada vez mais no esporte, melhorando suas linhas e evoluindo nas manobras.
RÁDIO UBATUBA SURF: Quais são os shapers que você se espelha, aqueles que te influenciam na sua linha de shape?
GM: Olha, me espelho muito nos shapes do Al Merrick e do Matt Biolos, mundialmente conhecido com Mayhem da LOST... Os caras estão muito na ponta dessa parte da indústria do Surf, sempre desenvolvendo coisas novas. Então a gente se espelha um tanto neles. Não digo copiar as ideias, mas saber o que eles estão fazendo para poder estar adaptando em nossas pranchas. Apesar deles usarem essas metodologias para ondas diferentes do litoral norte de São Paulo, acabo testando essas novidades nas pranchas de atletas para ver se funciona para nossas ondas também.
RÁDIO UBATUBA SURF: Você tem preferência em fabricar pranchas com resina Epoxi ou blocos tradicionais de PU?
GM: Cara, para mim hoje em dia é indiferente. Tanto trabalhar com PU ou resinas Epoxi. Na parte de praticidade, as de PU são mais rápidas para produzir, por questão de cura e secagem da resina. Já as de Epoxi demoram um pouco mais, porém com o tempo a tecnologia vem avançando bastante e ajudando muito na produção das pranchas. Mas, em relação a preferência, realmente gosto de trabalhar com os dois tipos de prancha.
RÁDIO UBATUBA SURF: A GM Surfboards tem uma estrutura bem ampla com um galpão espaçoso para a produção das pranchas e um show room na entrada do galpão. Conte um pouco da história dessa estrutura.
GM: Partindo do início, quando eu comecei a fazer as pranchas eu fazia num imóvel que era colado onde eu morava. Fiquei nessa casa por uns 5 anos, nesse tempo a produção foi aumentando e o espaço acabou ficando pequeno. Até mesmo pelos detritos gerados pela fabricação das pranchas, acabava incomodando minha mãe. E a sala de shape também era pequena, praticamente não conseguia fazer longboards maiores de 9 pés. Acabou surgindo a oportunidade de ir para esse galpão, que era da família, no Jardim Samambaia, e as condições ficaram bem melhores para trabalhar. Um espaço maior para poder armazenar material, produzir as pranchas e adequar melhor a produção. E também por questões ambientais, usando alguns exaustores para amenizar o impacto durante o processo.
RÁDIO UBATUBA SURF: OK Guilherme Magalhães! Valeu por sua participação no site da Rádio, agradeço suas informações e gentileza, fica o espaço para suas considerações finais;
GM: Eu só tenho que agradecer, durante todo esse percurso aí, sempre tive apoio da minha família. Ter uma equipe de atletas estruturada era um projeto antigo e hoje cada um tem suas pranchas, é muito gratificante. Agradeço a confiança dos clientes, já são mais de 8.000 pranchas produzidas. Surf é vida, é saúde, e fica um toque para aqueles que estão iniciando, para deixar um pouco o preconceito de lado. Muitas vezes os iniciantes não querem começar com uma prancha maior, pois algumas vezes isso na praia pode indicar que eles não tem experiência, enfim. E aí, por começar com uma prancha inadequada, a evolução não acontece rapidamente e acaba gerando uma frustração com o desenvolvimento lento e com o próprio equipamento. Procurem se informar quando for adquirir equipamento, procurem conversar com shapers, enfim, aqui graças a Deus em toda minha caminhada nunca tive reclamação em fazer pranchas para iniciantes que eles ficassem insatisfeitos. Equipamento certo é garantia de evolução. Abração e boas ondas.
Mais shapers incríveis da Capital do Surf
Augusto Motta é um dos shapers mais experientes da cidade. Já a longa data fabricando pranchas, começou a surfar aos 16 anos, em 1975, e continua dropando as ondas com frequência. Já shapeou mais de 13 mil foguetes e quando não está na água certamente está na sua sala de shape desenvolvendo seu trabalho.
Fotos: Arquivo Pessoal (instagram @augustomottashaper)
RADIO UBATUBA SURF: Augusto Motta, big legend, como foi seu envolvimento inicial com o surf?
AUGUSTO MOTTA: O Surf surgiu na minha vida quando eu tinha 16 anos, de uma maneira muito simples, eu nunca tinha ouvido falar nem sabia da existência desse esporte, isso em 1975. Um amigo veio na minha casa no Perequê-açu e disse: “ Augusto, vamos ali na praia ver uns caras deslizando nas ondas!” Fomos lá e chegando na praia vi uns 4 caras na água surfando, fiquei impressionado com aquela cena e foi aí que eu me interessei pelo Surf. Descobri que um irmão de um amigo tinha uma prancha, uma Evolution Jonhy Rice* 7 pés, pegamos essa prancha emprestada e foi aí que comecei.
RADIO UBATUBA SURF: Como foram suas primeiras experiências como shaper, quando você percebeu que poderia se tornar um profissional no assunto?
AUGUSTO MOTTA: Eu tive a oportunidade de ser patrocinado por várias marcas de pranchas aqui no estado de SP, tinha vários amigos que shapeavam minhas pranchas e eu estava sempre envolvido com essa galera. Aos 27 anos resolvi fazer minha primeira prancha, me lembro que usei uma plaina pequena, demorou vários dias para fazer, uns 7 a 10 dias para raspar o bloco e fazer o shape. A primeira prancha que eu fiz saiu com um visual legal, meus amigos viram o primeiro trabalho e elogiaram, falaram que eu levava jeito. E aí segui em frente.
RADIO UBATUBA SURF: Você foi um competidor afiado, tanto que até nos dias atuais participa das competições da cidade. Quais foram os resultados que marcaram sua carreira?
AUGUSTO MOTTA: Falando dos eventos locais, que eram realizados no final dos anos 70, onde não havia divisão de categorias, era uma categoria só, a maioria dos atletas tinha na faixa dos 18 anos. E foi aí que eu comecei a participar. Se não me engano fui 5 vezes campeão municipal, a partir daí consegui algum destaque em eventos estaduais. Me lembro também que cheguei numa semifinal num campeonato brasileiro realizado aqui. Mas o melhor campeonato, o que tive melhor resultado e reconhecimento foi em uma das edições do Waimea 5000, realizado no Arpoador RJ. Campeonato grande, tínhamos que atravessar toda a triagem com mais de 200 surfistas de todo o Brasil para chegar ao evento principal na categoria homem x homem. E eu fui um dos 3 surfistas de São Paulo a chegar na fase principal. Lembro que foi bem marcante esse evento, gerou um reconhecimento. Esse campeonato foi o mais bacana, o mais legal!
RADIO UBATUBA SURF: Falando em eventos, cite algumas ondas fora da cidade que te marcaram e que você se recorda até hoje!
AUGUSTO MOTTA: Nesse evento que eu participei, o Waimea 5000, peguei um dia lá no Arpoador que estava alucinante! Perfeito demais, um metro, um metro e meio! Umas esquerdas boas, longas e super manobráveis, me marcou muito. Sempre que eu lembro de um lugar assim ou tipo de onda que eu queria pegar de novo eu lembro desse mar no campeonato do Arpoador. Outro mar que eu gostei de surfar foi o Pier de Mongaguá, foi um campeonato que eu competi lá e tinha altas ondas rolando atrás do Pier, quase 2 metros, ondas muito longas, achei muito legal também!
RADIO UBATUBA SURF: Na sua caminhada, você já fez quantas pranchas em média? Prefere as de PU ou Epóxi?
AUGUSTO MOTTA: Acredito que já devo ter feito em torno de umas 13 mil pranchas. Atualmente a Epóxi está em evidência, tenho feito várias pranchas nesse material, atletas que surfavam de PU passaram para Epóxi e estão se dando bem. Eu particularmente prefiro surfar de Epóxi. Essas pranchas evoluíram demais de uns tempos para cá, antigamente os blocos eram muito macios, moles demais, parecia que estávamos pisando em algo muito fofo e dava uma impressão estranha na hora de surfar, a prancha era muito flexível. Nos dias atuais, estamos utilizando Epóxi injetado, ele é muito rígido, a maneira de surfar fica próxima demais do PU, porém eu acredito que ela facilita muito na remada e projeta bastante também. Antigamente as pranchas de Epóxi eram muito leves, agora estão com um peso ideal devido a espuma ser mais densa e compacta, o Epóxi injetado que ficou muito bom.
RADIO UBATUBA SURF: Beleza big legend Augusto Motta, deixe sua mensagem final aos leitores e ouvintes da Rádio!
AUGUSTO MOTTA: É isso! Queria deixar um grande abraço à toda comunidade do Surf. Fiz e tenho muitos amigos dentro desse esporte. Valeu, obrigado pela oportunidade de poder mostrar um pouco da minha história para a nova geração, estou fazendo um trabalho de apoio com alguns atletas novos, enfim. Tenho procurado evoluir a qualidade do meu trabalho, sempre pesquisando novas linhas e técnicas. Minha vida é totalmente dedicada à arte de shapear, vou buscando trabalhar e evoluir em cima do que há de mais moderno. Surf é saúde, bora surfar então, valeu!
*(Nota da Redação: A prancha Johnny Rice citada por Augusto Motta no início da entrevista é uma verdadeira raridade. Johnny Rice era um americano descendente de indígenas, da cidade de Santa Cruz na Califórnia. Morou na California, Hawaii, era shaper na década de 60 fazendo pranchas de madeira e acompanhou a transição para os blocos de Poliuretano. Uma característica interessante era que ele amava o som bossa nova. Um dia ao cruzar com brasileiros no Hawaii falou de seu sonho de conhecer o Brasil, recebeu muitas informações e sem nenhum trabalho fixo aqui literalmente ‘se jogou’ com a família para cá no início dos anos 70. Desembarcou na capital SP e imediatamente se deslocou para o Guarujá onde por 5 anos fez muitas pranchas e ensinou muitas pessoas a trabalhar com o Surf. Foi um dos primeiros a incentivar o Surf profissional no Brasil, inclusive patrocinando nomes como Tinguinha e Alfio Lagnado).